sexta-feira, 29 de março de 2013

Esquecendo o presente


A maioria de meus amigos e família no Brasil têm a ideia de que eu detesto o meus país natal sob todas as formas. Isso não é verdade. Como bom “carioca”, eu amei a minha cidade natal enquanto vivi no Brasil. Nascido em 1944, parti em 1967 para não mais regressar. Destes 23 anos guardo muito boas recordações e quero acabar, de uma vez por todas, com esta ideia preconcebida que me é atribuida.

O Rio de Janeiro, visto de cima, a bordo de uma aeronave, por exemplo, é talvez a mais bela cidade que existe. As baías de contornos graciosos, as montanhas com a vegetação luxuriante da Mata Atlântica, as ilhas, o mar azul e as praias de areia fina e branca, o Pão de Açúcar, o Corcovado com o Cristo de braços abertos como para dar as boas-vindas aos visitantes, tudo isso é esplendoroso e surpreendente. Uma vez, vinda do Canadá, onde habitávamos na ocasião, minha esposa relatou que ao sobrevoar o Rio, todos os passageiros da aeronave bateram palmas, emocionados.

Esta beleza incomparável deu origem ao apelido bem merecido de "Cidade Maravilhosa". O carioca, brincalhão como ninguém, conta numa anedota que Deus passou 6 dias para criar o Rio de Janeiro. Um anjo, confuso em ver o Senhor tão ocupado num só lugar e com somente um dia restante para acabar a criação do mundo, perguntou respeitosamente: "Senhor, não é injusto passar tanto tempo criando este lugar maravilhoso, enquanto que ainda existe o resto do mundo para acabar e povoar?". Deus respondeu calmamente ao anjo: "Não te preocupes, meu filho. Verás depois, para compensar, que tipo de gente eu vou colocar neste lugar de sonho...". De uma certa maneira, esta anedota representa o que eu sempre senti a respeito do lugar onde nasci: se amei a cidade, tive - e ainda tenho - muitas restrições ao caráter e hábitos de seus moradores.

Quando me lembro nostalgicamente do Rio da minha juventude nos anos sessenta, eu sinto prazer e até mesmo saudades: as grandes avenidas do centro, os prédios históricos majestosos, as belas praças arborizadas; os restaurantes onde comi pratos que até hoje me lembro com regalo; as igrejas deslumbrantes, como o Mosteiro de S. Bento e o Outeiro da Glória, onde me casei; os cinemas da Cinelândia, que frequentava várias vezes todas as semanas; as grandes livrarias, onde ficava horas a fio a folhear livros que muitas vezes nem podia comprar; a Associação de Canto Coral, onde aprendi a arte do canto, fiz grandes amigos e consegui ser promovido ao côro a cappella e cantar nas capitais européias; certas bancas de jornais, onde comprava, com o dinheirinho que eu conseguia economizar, as revistas americanas de histórias em quadrinhos; o belo e imponente Teatro Municipal, onde me iniciei à música clássica; os bares, sobretudo o conhecido Amarelinho, sempre cheios, onde batia papo com os amigos e encontrava os poetas da noite, bebendo chopinho gelado madrugada a fora e chegando em casa ao sol raiar. Lembro-me de sentir um pouco de vergonha, pois muitas vezes chegava na hora mesmo em que meu pai estava saindo para o trabalho. Mas nunca fui assaltado, nunca me senti em perigo. Foi uma vida feliz, gostosa e despreocupada.

Depois de casado, em 1966, mudei para Copacabana, onde pude gozar da beleza do mar, dos prazeres da praia e da temperatura mais amena, bem diferente do calor opressivo da zona norte, onde morava antes. Não, a verdadeira razão pela qual decidi emigrar um ano depois nada tem a ver com a minha cidade e o meu país natal. O que me fez partir foram os sonhos que povoavam a minha mente e que me impulsionavam rumo ao velho mundo, onde a cultura e a arte me esperavam de braços abertos. E nisso, eu havia tido a fortuna de encontrar uma companheira que partilhava os mesmos sonhos e expectativas.

Retornei ao Rio trinta e três anos depois, para jogar as cinzas de minha amada companheira nas águas do mar, no Posto 6 em Copacabana, como ela me havia pedido antes de morrer. Fiquei hospedado, com minha filha, num hotel na Avenida Atlântica. Pude visitar minha família, minhas queridas cunhadas e meu amigo de infância. A meu pedido, este amigo me fez percorrer de carro o bairro onde nasci e vivi a maior parte de minha vida no Rio: São Cristóvão. Foi um grande erro meu.

Uma boa amiga minha me disse uma vez que não devíamos retornar, depois de passados muitos anos, aos lugares que amávamos. Ela disse que, na maioria das vezes, a realidade não correspondia mais com a lembrança, e gerava o sofrimento de uma decepção profunda. Minha amiga tinha toda a razão: o Rio que eu conheci e amei, não correspondeu ao Rio que eu encontrei. Se eu quiser resumir em duas palavras o que vi e senti, eu diria: feiura e pobreza. A cidade - agora pobre, feia, hostil e decadente - com a qual eu me deparei, não tinha mais nada em comum com a “minha” cidade. Retornei ainda algumas poucas vezes, mas somente para visitar os entes queridos.

Lembro-me que em uma das vezes fomos ao centro para almoçar na famosa Confeitaria Colombo, onde meu pai havia trabalhado muitos anos. Minha sobrinha, que nos levou até lá, estacionou o carro num estacionamento nas redondezas. A caminhada do estacionamento à Colombo foi uma corrida frenética, como se a qualquer momento pudéssemos ser assaltados. Não tive tempo nem de verificar se eu ainda reconhecia os prédios daquele local tão familiar do passado. Lá dentro, uma surpresa: a Colombo se apresentou para mim da mesma maneira resplandecente de outrora; e a comida, absolutamente do outro mundo. Mas, na saída, a mesma correria de volta ao estacionamento.

O jantar magnífico que me foi oferecido pelo meu amigo de infância, a mesma coisa: de carro da casa dele para um estacionamento subterrâneo de onde acessamos diretamente a entrada para o restaurante. Nada de andar pelas ruas, todos preocupados com a minha segurança.

Esta impressão triste e ruim que experimentei durante algumas visitas, eu quero esquecer. Eu prefiro ficar com as minhas lembranças de uma “cidade maravilhosa” onde nasci, cresci e passei a minha juventude, onde vaguei pelas ruas sem temor, onde construi meus sonhos e ambições para o futuro, onde conheci o meu primeiro amor.

Não detesto a minha cidade nem o meu país natal. Simplesmente não consigo me ver voltando a residir num lugar que nada mais tem para me oferecer. A mesma razão pela qual eu parti em 1967, é agora ainda mais válida. Se antes eu fui movido por um sonho de mergulhar na cultura e na arte, porque iria eu, justamente no final de minha vida, abandonar tudo aquilo com que sonhei?

Como Livingstone, eu digo: "Eu estou preparado para ir não importa aonde, contanto que seja para frente". Perdoem-me, mas no meu caso, sobretudo, não faz sentido voltar atrás...

sexta-feira, 22 de março de 2013

Na minha opinião...

Por que é que quando as pessoas pedem a nossa opinião sobre um determinado assunto, e você inocentemente aceita a dar, elas costumam ficar zangadas ou desapontadas? Afinal de contas, se você não quer ouvir a resposta, então porque faz a pergunta?

Se você pedir a opinião de uma outra pessoa, você está procurando outras alternativas que talvez não fosse capaz de pensar. Estas alternativas podem ser úteis para abrir sua mente a uma nova solução que lhe teria escapado. Deve ficar com raiva se não concordar com a pessoa? No final, a decisão é sua, e você é absolutamente livre para ignorar qualquer opinião que ache inadequada para o seu caso.

  
É perfeitamente natural discordar comigo, ou discutir de uma maneira amigável, ou até ignorar completamente o que eu disse. O que não é aceitável é zangar-se e insultar-me simplesmente porque a minha opinião não lhe agrada. 

No entanto, percebo que a menos que eu tenha muito cuidado em escolher as minhas palavras, as pessoas não estão preparadas para ouvir algo que é totalmente  contrário ao que elas pensam. Por conseguinte, a maioria das pessoas só está interessada ​​em ouvir uma opinião se esta opinião vai ratificar a escolha que elas já fizeram.


Algumas pessoas são completamente refratárias a opiniões, no entanto, elas continuam insistindo. E quando as recebem
, vão exatamente na direção contrária. Para essas pessoas, talvez seja mais adequado expressar exatamente o oposto do que você pensa. Isso pode levá-los a escolher o contrário do que você disse, o que é, na verdade, o que você realmente pensa.

Complicado, não é? Mas na realidade, tudo se reduz a um pouco de arrogância. Algumas pessoas pedem uma opinião, mas elas continuam a pensar que sabem tudo. Portanto, o esforço de quem dá o parecer é um completo desperdício de tempo.


Uma coisa muito surpreendente é que aquele que pede uma opinião, esquece completamente o fato de que você fez um esforço para ouvi-lo, estudar o assunto e expressar seus pensamentos. Tudo isso é um tempo precioso de sua vida que você dedicou a essa pessoa. Ela não deveria ficar grata a você por isso, mesmo não concordando com você?
 
Um problema maior ocorre quando você é bobo o suficiente para dar a sua própria opinião sem ninguém perguntar. Opa! A maioria das vezes as pessoas ficam realmente chateadas, e uma discussão desagradável segue. Isso acontece mesmo com família ou amigos próximos. Já há muito tempo eu decidi deixar de fazer isso. Hoje em dia, eu nunca dou espontaneamente a minha opinião a ninguém em questões privadas ou delicadas.

Eu ainda acho que a liberdade de pensar e falar me dá o direito de expressar a minha humilde opinião sobre assuntos que são de natureza universal. Mas, mesmo assim, pode me criar embaraços. Tome religião ou política, por exemplo. As pessoas são muito sensíveis sobre tais assuntos, e você tem que ter muito cuidado ao expressar seus próprios pensamentos e convicções.


Se você visitar blogs na Internet, você vai ver o que eu quero dizer. A quantidade de insultos que alguns dos blogueiros recebem nos comentários aos seus artigos é incrível. O que aconteceu com a polidez e a boa educação? Será que não podemos discordar de alguém sem ser ofensivo? Linguagem, escrita ou falada, é uma bela ferramenta que deve ser cultivada com amor e competência. Mas, no mundo de hoje, discordar significa confronto, em vez de diálogo.


Quero perder o meu tempo? Quero me aborrecer? Certamente que não. Alguém disse uma vez: "Se você insistir em dizer o que quer dizer, vai ouvir o que você não quer ouvir". Verdade pura e simples. Por causa disso tudo, eu procuro ficar bem longe de opiniões. Normalmente eu mantenho a minha boca bem fechadinha, a menos que alguém que eu conheça muito bem insista em pedir a minha opinião. Neste caso, eu faço questão de dizer-lhe que deve se sentir completamente livre para ignorá-la e esquecê-la, e que não precisa argumentar comigo.

Está funcionando? Bem, nem sempre, mas pelo menos me dá o direito de ignorar  reações adversas e colocar essas pessoas na lista negra para que eu não perca mais o meu tempo com elas no futuro.


E você, qual é a sua opinião sobre tudo isso? ;-)